Resenha de nova edição italiana da célebre obra de Bat Ye’or (pseudônimo da escritora Gisèle Littman, judia nascida no Egito e naturalizada inglesa), Eurabia. Como a Europa se tornou anticristã, antiocidental, antiamericana, anti-semita (edições Lindau, 440 p.).
Do diálogo euro-árabe ao Pacto Global. Quatorze anos depois da primeira edição de Eurabia, a escritora anglo-egípcia de origem judaica Bat Ye’or, que também inspirou Oriana Fallaci, retorna para alertar a respeito dos que desejam ligar indissoluvelmente a Europa e o mundo árabe, para se impor no cenário político médio-oriental e internacional.
Trata-se de um eixo que hoje poderia novamente se consolidar graças à migração em massa que as Nações Unidas pretendem regularizar através do Pacto Global [Global Compact for migration], um documento apresentado em dezembro passado [2018] nas Nações Unidas, que visa uma governança supranacional do fenômeno migratório, num cenário global que não leva mais em conta os estados-nação. Junto com a Comissão da União Europeia e o Conselho Europeu, que gostariam de fazer o tratado que sanciona o “direito de migrar” obrigatório para os países membros, Bat Ye’or acusa as instituições europeias de continuar a promover a islamização do continente através do incentivo à imigração de países muçulmanos. Um fenômeno que, para a autora, se assemelha mais a uma “invasão”, porque, como explica no prefácio à nova edição do livro, “não se trata de migração individual e numericamente reduzida, mas de massas de pessoas que deixam seus lugares de origem em busca de outras regiões”.
O objetivo dos pais fundadores da União Europeia, explica a escritora, foi criar, através de “ideologias humanitárias e pacifistas” como “multilateralismo, multiculturalismo, relativismo de valores”, uma “Europa unificada sem fronteiras, reconciliada com o mundo árabe, capaz de “controlar o Mediterrâneo, a América e o bloco soviético”. O texto afirma que a união indissolúvel da Europa e da África teria dado garantias aos “grandes mercados e eliminado os obstáculos dos nacionalismos locais frente à unificação e homogeneização da Europa”. O êxodo em massa dos países muçulmanos para o Velho Continente, por um lado, e, por outro, a crescente islamização dos países árabes, com a destruição das minorias religiosas históricas, são as ferramentas para produzir essa “superpotência euro-islâmica”.
Os apelos das instituições da UE aos Estados-Membros para a adopção do Pacto Global (Global Compact), segundo a autora, devem ser interpretados precisamente à luz da realização daquele objetivo: a fusão das duas margens do Mediterrâneo. “Este acordo pela migração — acusa Bat Ye’or — é um cheque em branco dado a uma jihad pacífica, segura, ordeira e regular, patrocinada por um califado mundial”. “Alguns países ocidentais se recusaram a assiná-lo, outros se apressaram em participar — explica a autora — dessa jihad migratória pacífica, que é organizada em colaboração com líderes europeus”. “O Conselho Europeu apoia-o financiando uma campanha de desinformação para mostrar que as raízes da Europa se encontram no Alcorão”.
Nessa obra, a escritora nascida no Cairo reconstrói algumas escolhas políticas, começando com o projeto francês de construção de uma aliança geopolítica euro-islâmica, oposta à influência dos EUA no Oriente Médio, que levou a Europa a se tornar presa do terrorismo islâmico, repudiando a própria identidade e suas raízes judaico-cristãs. Tudo isso, de acordo com Bat Ye’or, reduziu a Europa a cacos, levando ao atual confronto entre o povo e as elites. Os partidos soberanistas, que interpretam o sentimento popular, representariam uma barreira para os planos da liderança europeia, que agora procura intervir, forçando os países membros da UE a “implementar as recomendações do Global Compact for migration, incentivando a vinda ininterrupta de migrantes africanos”. Difícil de prever o que o futuro nos reserva. O que é certo, segundo a escritora, é que a “defesa das liberdades democráticas” passa pela “luta contra a importação, pelas elites europeias, da dhimmitude [neologismo que designa a sujeição obrigatória de não-islâmicos aos estados muçulmanos]”. (Cristina Verdi, Il Giornale, 12/06/2019.)